quinta-feira, 31 de março de 2011

Acervo Audiovisual - Dona Vanjoca

Dona Vanjoca e o museólogo do MCHA Hélder

Realizada hoje mais uma coleta de relato para o acervo audiovisual do MCHA. A entrevistada foi Dona Vanjoca, moradora da comunidade rural Oitiua e caixeira da Festa do Divino Espírito Santo. Num depoimento emocionante, ela se lembrou das origens da Festa em sua comunidade e das tradições religiosas que se perderam no tempo, cantou trechos das toadas tradicionais e ajudou a recuperar a memória de caixeiras que já morreram.  

quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

Exposição “E a Palhaça quem é?”

O Museu Casa Histórica de Alcântara está recebendo a partir de hoje a exposição “E a Palhaça, quem é?”,  reunindo fotos e vídeos do projeto de mesmo nome, financiado pela Funarte. A iniciativa consistiu em Oficinas de formação de mulheres-palhaças, que tem como objetivo maior ampliar a “cultura de paz”, promovendo valores pacifistas por meio desta tradição circense.
 Além das fotos e vídeos, as palhaças formadas nas oficinas executam performances para grupos que agendarem visitas. Agendamentos podem ser feitos pelo telefone (98) 9111-3036.

Visita guiada - alunos da Escola Estadual John Kennedy




Visitaram hoje a exposição “E a Palhaça o que é?” alunos da escola estadual John Kennedy, acompanhados pelas professoras Sílvia e Francisca. Os técnicos da casa, aproveitando a presença dos estudantes, os levaram para conhecer a exposição permanente do Museu.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A presença feminina no Museu Casa Histórica de Alcântara

Procória da Silva Guimarães por volta de 1905. 
Retrato feito pelo artista alcantarense Nestablo Ramos.
O sobrado que sedia o Museu Casa Histórica de Alcântara abrigou, ao longo dos seus quase duzentos anos de existência, personalidades femininas cujas trajetórias individuais desafiaram os comportamentos e conceitos de suas épocas. Não são, no entanto, figuras públicas nem líderes de qualquer tipo de movimento de emancipação feminina. A resistência que impuseram às tentativas de restringir o espaço de ação feminina se deu no cotidiano, no espaço privado e anônimo, em esforços que certamente foram similares a outros tantos efetuados nas mesmas condições, e que por isso servem como indicadores de um padrão de luta.    
Mariana Francisca de Viveiros foi uma delas. Ela tem sido identificada, quase sempre, por suas ligações com homens importantes da época, como seu pai, o Comendador José Maria Correia de Souza, português rico que se tornara chefe político local, responsável por determinar a implantação de inúmeras melhorias urbanas na cidade, em tempos do Segundo Reinado; ou de Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho, seu primo e esposo, influente na política provincial e partícipe das decisões da Corte, que foi agraciado com o título de Barão de São Bento em 1853, fazendo de Mariana baronesa.  Ou ainda por seu papel de progenitora de José Francisco de Viveiros, líder politico que conseguiu manter a presença política da família Viveiros mesmo após a Proclamação da República.
Vista assim, como figura assessória de personagens masculinos a quem se confere importância histórica, ela parece perder suas caracterísitcas pessoais. Quem a observar dessa forma deixará de perceber uma outra faceta de sua personalidade, que é a de chefe de família e administradora de vastos bens, posição em que foi bruscamente alçada em 1860, quando da morte prematura do Barão, aos 41 anos de idade. Colocada à frente de um grande cabedal de propriedades rurais, escravos e outros empreendimentos, e como cabeça de uma extensa família de políticos e figuras nobres, ela desempenhou, nas três décadas seguintes, um papel que estava tradicionalmente reservado aos homens. Além de atuar nessas funções, ela ainda se dedicava às atividades religiosas da cidade, aparecendo como uma importante financiadora das suas festas tradicionais. 
Foi a responsável, afinal, pela negociação que transferiu a propriedade do sobrado número 1 da Praça da Matriz para as mãos da família Guimarães. Em transação fixada no Livro de Registro de Imóveis do Cartório da cidade de Alcântara, realizada em 28 de setembro de 1889,  a Baronesa de São Bento vendeu o casarão para a firma “Guimarães et Irmãn”. Entra em cena, nesse momento, nossa segunda personalidade feminina, Procória da Silva Guimarães, a “irmã” que aparece no registro do Cartório. Em sociedade com Antonino Guimarães, ela investiu suas economias na aquisição do sobrado, que se tornaria, daí em diante, um espaço de comércio e desenvolvimento de ofícios. A nova família proprietária era composta por artífices de várias especialidades – ferreiros, sapateiros, alfaiates – que impuseram uma outra dinâmica ao imóvel. Procória, pelo que se sabe, especializou-se na arte de fazer rendas, atividade importante naquela altura.
Reafirmando um posicionamento que pressionava os limites impostos pela tradição social, ela rompeu a parceria com o irmão comerciante em 1893, o que levou à subdivisão do imóvel adquirido pela antiga firma. Procória, que ficou com a metade norte do sobrado, conferiu uma nova orientação ao prédio: ordenando o fechamento parcial de uma das portas do piso térreo, improvisada em janela, decretou a privatização de um espaço que, até então, orientava-se para a o mundo público, da rua. O acervo do Museu Casa Histórica de Alcântara guarda vestígios da vida privada de Procória, como objetos de toucador, frascos de perfumes e leques. Roupas femininas repletas de intrincadas rendas, toalhas de banho e mais um vasto material têxtil indicam a habilidade de seu trabalho manual e os padrões de uma feminilidade que se materializava no vestuário. A presença de um genuflexório, um sacrário e imagens religiosas em seus aposentos revela as formas e preferências da religiosidade privada da virada do século XIX em Alcântara.
Outra personagem feminina de destaque na história do sobrado número 1 da Praça da Matriz foi a ex-escrava Mãe Calu. Nascida em meados do século XIX, ela viveu mais de cem anos na cidade de Alcântara, tendo testemunhado momentos importantes da história nacional, de cujos  desdobramentos resultaram muitas mudanças na sua própria vida. Acompanhou de perto os movimentos que se seguiram à Abolição da Escravatura e à Proclamação da República; naquele 15 de novembro, os ex-escravos destruíram o pelourinho, símbolo da monarquia e da escravidão, levando seus restos para lugares ignorados. Nos anos 1950, já centenária, Mãe Calu indicou a localização dessas peças, o que permitiu a restauração do pelourinho, um dos mais famosos elementos da paisagem da cidade, marco de um período da História do país.
Mãe Calu era carismática e firme, e tornou-se guia e referência para a comunidade formada por ex-escravos na cidade. A tradição oral indica que ela passou a viver no sobrado da família Guimarães já depois da abolição, vinda como acompanhante da noiva de Antonino, Leontina Estela. Na nova família, ela ascendeu ao papel de “governanta”, administrando os serviços necessários ao funcionamento da casa. Era a superiora de um grande grupo de moças que viviam e trabalhavam no sobrado dos Guimarães, as “crias da casa”, a quem comandava com rigor e disciplina. Exímia cozinheira, suas receitas até hoje são lembradas. Detentora de saberes religiosos ancestrais, administrava rezas e benzas, assumindo o papel de curandeira. Suas receitas e rezas foram compiladas e expostas na Mostra “Mãe Negra” em São Luís, que aconteceu os anos 1990.
Mas ela extrapolou o papel de serviçal da família e prosperou, diz-se, a partir da criação de galinhas e bovinos, tornando-se proprietária na cidade. Ao morrer, a mulher que começara sua vida como cativa, na categoria de coisa, havia conquistado o respeito de toda a sociedade local. Ela, no entanto, nunca deixou de se reconhecer como  ex-escrava: ainda se lembram os antigos moradores da cidade que, todo dia 13 de maio, Mãe Calu se vestia com suas melhores roupas, paramentava-se com jóias e se sentava no banco da praça em frente ao sobrado, debaixo da frondosa figueira que ainda lá se encontra, e distribuía doces às crianças. Uma rotina que indica a construção de um culto particular à figura da Princesa Isabel, e que não deixava que se apagasse da memória a triste lição da escravidão.
O Museu Casa Histórica de Alcântara, como se vê, é detentor da memória dessas pessoas singulares, mulheres que sustentaram atuações importantes em seus contextos e que contribuíram, cada uma a sua maneira, para derrubar as barreiras sociais impostas ao gênero feminino.    
Texto e pesquisa: Daniel Rincon Caires

domingo, 13 de março de 2011

Os móveis Thonet do Museu Casa Histórica de Alcântara

Conjunto de cadeiras, cadeiras de braço e canapé fabricados
 pela indústria moveleira Thonet, em exposição na Sala de Visitas do MCHA.
De acordo com informações de representante do Museu Thonet, na Áustria, os móveis de nosso acervo foram fabricados entre 1910 e 1918. São peças leves, que contrastam quando comparadas com as grandes, pesadas e austeras cadeiras em estilo diretório do final do século XIX, também presentes em nosso acervo.
Os móveis Thonet tornaram-se muito populares no mundo todo a partir das primeiras décadas do século XX, pois eram fáceis de transportar e baratos. Prova da popularidade dos móveis Thonet no Maranhão são as fotos de Gaudêncio Cunha (em "Maranhão 1908"), que registram a presença das cadeiras desta fábrica em diversas repartições públicas, casas de Câmara e até na sala de espera de seu estúdio fotográfico .
(DRC)

sábado, 12 de março de 2011

Embarcações maranhenses do início do século XX

Esta foto de Gaudêncio Cunha, feita no início do século passado, mostra três tipos de embarcações maranhenses, certamente não muito diferentes das que Antonino Guimarães possuía. É interessante notar que elas servem a finalidades diversas. A menor delas, à direita, parece transportar uma família em passeio; duas mulheres, paramentadas com chapéus e sombrinhas e seus acompanhantes  engalanados. A embarcação da esquerda, um cutter, está repleta de homens com aparência de trabalhadores, estivadores ou marinheiros, descalços, vestidos com simplicidade e usando grandes chapéus que os protegem do sol abrasador. Próximo da embarcação maior, ao fundo, percebem-se dois grandes montes de madeira cuidadosamente empilhada, prestes a ser embarcada e transportada. Essa madeira, provavelmente, seria empregada como lenha ou, talvez, como estaca para cercas, o que demonstraria o uso parcelar de terras. Um outro elemento presente na imagem é a grua, ladeada por um homem, sobre a estrutura de pedra ao lado do cutter, um equipamento precioso para os trabalhos de carga e descarga. A imagem está na quarta capa do livro "Maranhão 1908 - Álbum Fotográfico de Gaudêncio Cunha", uma edição comemorativa dos cem anos da Academia Maranhense de Letras. Infelizmente, não há maiores informações a respeito dela, tornando-se difícil determinar em que localidade foi realizada.

Bibliografia

CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908 - álbum fotográfico. São Luís: Edições AML, 2008. p. 104 (quarta capa) Modificada digitalmente: removido texto de Gonçalves Dias da parte superior central da imagem.

(Daniel Rincon Caires)

domingo, 6 de março de 2011

A frota de Antonino Guimarães

A lancha "Milton Belo", no cais do Jacaré
       Em fevereiro de 1920, Antonino da Silva Guimarães, patriarca da família que ocupava o sobrado onde fica o Museu Casa Histórica de Alcântara, emprestou uma grande soma -12 contos de réis -  ao capitão e carpinteiro Manoel da Vera Cruz  Silva Ribeiro, tomando como garantias:

Uma casa de azulejos pedra e cal na rua de Baixo,  uma salina com depósito no lugar Lagoa, posse de terra Ipixuna, três terrenos na calçada do Jacaré, dois terrenos à rua do Norte, um cutter denominado “Filha do Norte”, com 14m de comprimento, 3,45m de bocca, e 1,30m de Pontal, com 15 toneladas de capacidade, um cutter denominado “Ivone Rosa Providência” com 12,10m de comprimento, 3,50m de bocca e 1,20m de pontal, com 11 toneladas de capacidade,  um cutter denominado “Resedá” com 5,80m de comprimento e 7 toneladas de capacidade, uma Canoa denominada “Lanchão” com 7,92 m e 1,3 tonelada de capacidade, uma canoa denominada “1º de maio” com 6,8m de comprimento e 2 toneladas  de capacidade, um burro de carga de cor castanha e mais 54.283kg de sal em depósito no Bacanga.

A casa e a salina dadas em garantia descritas acima passaram à propriedade de Antonino, o que permite supor que Manoel da Vera Cruz Ribeiro não conseguiu pagar sua dívida e viu a hipoteca ser executada, perdendo os bens dados em garantia, inclusive as embarcações. Dessa forma, Antonino consolidava seus negócios, tornando-se proprietário de uma expressiva frota cuja “estrela” era o cutter “Filha do Norte”. Jazem, na reserva técnica do Museu Casa Histórica de Alcântara, os restos mortais desta nau, reduzida a dois grandes moitões.  
A cidade de Alcântara, ainda hoje, depende muito da navegação para se conectar com a região, especialmente com a capital São Luís, distante cerca 22 km, do outro lado da Baía de São Marcos. Os caminhos terrestres são escassos, e no passado serviam apenas para ligar a zona rural à sede. Dessa maneira, a posse de embarcações era requisito fundamental para a realização de transações comerciais. Os registros reproduzidos acima, encontrados nos livros do Cartório de Alcântara, apontam os investimentos de Antonino na formação de um sistema de transportes que permitisse a circulação de mercadorias de seus comércios e suas fazendas para os portos da região.


(Daniel Rincon Caires)

terça-feira, 1 de março de 2011

Solidariedade



Hélder, Liz e a diretora Karina organizam o material para envio,
 na sala de recepção do MCHA 
 
 MCHA encaminhou para a Cruz Vermelha de São Luís os alimentos, roupas e calçados doados pelos moradores e comerciantes de Alcântara para atender às vítimas das chuvas do Rio de Janeiro. A comunidade alcantarense se solidarizou com os atingidos pelas enchentes, atendendo ao apelo do Museu. Quatro grandes caixas contendo o resultado da campanha foram encaminhadas para a capital do Estado, de onde devem seguir para o Rio.