sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Móveis Thonet

Fábrica Thonet, 1930. Produção em série popularizou o móvel
 Filho de um artesão, Michael Thonet estabeleceu-se como marceneiro autônomo em 1819, fundando sua oficina em Boppard, na região do Reno, atual Alemanha. Tornou-se famoso pelos móveis construídos com madeira curvada, uma técnica já conhecida na Europa desde o início da Idade Média. Os blocos de madeira sólida eram tornados maleáveis pela aplicação de calor e umidade através do vapor, sendo então moldados em novas formas. O domínio e desenvolvimento da técnica exigiu décadas de esforço. Iniciou as primeiras experiências, usando compensado e cola, em 1830. Dedicado a estratégias de redução de material e tempo, Thonet “permitia que as qualidades intrínsecas do material – madeira – ditassem as formas de suas criações”.
Em 1842, durante a Feira de Comércio de Koblenz, conheceu o príncipe Klemenz Wenzel Von Meternich, da Áustria, a quem impressionou com seu trabalho. Foi convidado a produzir móveis para os palácios de Viena. Estabelecido nesta cidade, Thonet viu-se capaz de atingir todo o mercado do Império Austríaco. Nos próximos anos, Michael Thonet conquistou gradualmente o respeito da comunidade europeia, recebendo prêmios nas Feiras Mundias de Paris e Londres.
Conhecido como o responsável por efetuar a transição do processo artesanal para a produção industrial de móveis, Thonet desenvolveu um sistema de fabricação em massa em 1859, com sua “Cadeira nº 14”. As etapas do processo foram padronizadas e a concepção de divisão do trabalho foi empregada pela primeira vez na fabricação de móveis, o que barateou o produto. A cadeira nº 14 era facilmente desmontável, leve e ocupava pouco espaço para ser transportada. Além disso, Thonet fez grande publicidade de seus produtos, espalhando catálogos, provando-se brilhante capitalista, daqueles que compreendem ser necessário criar uma sociedade de consumo cujos desejos são inventados e depois atendidos. A conjunção desses fatores elevou o móvel de Thonet a um patamar global: até hoje, mais de 60 milhões de unidades foram vendidas. O pico de produção da fábrica Thonet ocorreu em 1912, quando 2 milhões de itens foram produzidos e vendidos.
Fábrica em Koritchan
A partir de 1856 as fábricas Thonet se espalharam pelo leste europeu, iniciando pela unidade  em Koritchan, na Morávia. A presença de grandes bosques de faias, a madeira mais usada nos móveis Thonet, atraiu o empresário para a região.
O Brasil foi um dos maiores mercados para os móveis produzidos pelas indústrias Thonet. Tilde Canti, estudiosa do mobiliário, comenta a recepção desses objetos no país:

 “Apesar de ser um móvel importado, o de estilo austríaco teve uma grande aceitação no Brasil a partir de 1861. Esses móveis apresentavam-se de várias formas, sempre com a madeira em corte circular, encurvada. São cadeiras, poltronas, canapés, consolos e pequenas mesas. A princípio eram fabricados por Michael Tonet, depois por seu filho Gebruder Thonet. Em seguida apareceram outros fabricantes desses móveis, como   Fischel, sediado em Wieny Niemes I.B. Desse fabricante há móveis em quase todo o Brasil.
Desde 1830 Michael Thonet fazia experiências, na Alemanha, em Bappard, região do Reno, com folhas de madeira compensada curvas. Mudando-se em 1842 para Viena, sob a proteção de Meternich, abriu sua fábrica em 1849. Aí, pesquisando em madeira maciça envergada (pau-rosa), apresentou, na exposição de 1851, o resultado de seu trabalho. A partir de 1860, usando a produção em série, em técnica industrial, passou a exportar seus móveis que, por serem leves e de fácil transporte, além de baratos, tiveram grande aceitação. Ele exportou sobretudo para as américas do Norte e do Sul. Sua procura foi geral, por todas as camadas sociais e, sobretudo, pelas casas comerciais que tinham necessidade de cadeiras e mesas em grande número. Até princípios do século XX ainda eram vistas nos cafés e restaurantes de várias cidades européias, americanas e na Austrália.

Encontramos esse estilo de cadeiras em todo o Brasil, mesmo em cidades do interior. São vistas às vezes com mesas, consolos, canapés e cadeiras de balanço, em fazendas, conventos, igrejas etc., além das encontradas nas casas tradicionais brasileiras. Móveis austríacos têm sempre um carimbo, etiqueta ou o nome Thonet gravado no avesso do assento.

No Rio de Janeiro, em dezembro de 1890, foi aberta uma fábrica que se dedicou à produção de móveis no estilo Thonet, tendo Ernesto Eugênio da Graça Bastos como presidente, e Leandro Augusto Martins como secretário. A Companhia de Móveis Curvados foi fundada para fabricar em grande escala móveis ‘a imitação dos de procedência austríaca, empregando o hunharém macho e outras madeiras. Firmaram contrato por 30 anos. O endereço era rua General Câmara 68, sobrado, o escritório, e a fábrica na rua Oliveira Fausto 18.” (CANTI, Tilde. O Móvel do Século XIX no Brasil. Rio de Janeiro: Cândido Guinle de Paula Machado, 1989. p. 153)
Mulheres em Koritchan, trabalhando com palhinha
Note-se como Tilde fala em “fabricantes” de móveis, e não mais de “artesãos”. De fato, no século XIX os processos industriais substituíram definitivamente o trabalho artesanal que marcava a produção dos móveis. Uma oportuna simplificação estilística, identificada genericamente como “neoclássico”, eliminou das peças os entalhes rebuscados que máquinas eram incapazes de reproduzir. O mobiliário, segundo opinião de João Hermes Pereira de Araújo, sofria uma “vulgarização e aburguesamento”. Ao mesmo tempo, o comércio se intensificou. Os móveis Thonet, dos quais o Museu Casa Histórica de Alcântara possui alguns exemplares, foram a variante industrial de mobiliário mais popular do século XIX.  
Bibliografia:
BLOOM, Barbara; WITT-DÖRRING, Christian. Historicism Art Nouveau. Texto para exposição sobre os móveis Thonet . The Museum of Applied Arts – Vienna. Obtido em http://www.mak.at/e/sammlung/schausammlung/raum04frame.htm

CANTI, Tilde. O Móvel do Século XIX no Brasil. Rio de Janeiro: Cândido Guinle de Paula Machado, 1989. p. 153
Indústrias Thonet .Texto básico para imprensa. Frankenberg/Eder, Novembro 2010. Obtido em http://www.thonet.de/
Imagens:

Mulheres na linha de produção – Koritchan http://www.koryna.cz/root/document/firma/historie/pletarky.jpg

Indústrias Thonet – 1930: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Thonet_-_Mundus.gif

Texto e pesquisa: Daniel Rincon Caires

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